terça-feira, 23 de abril de 2024

os cravos de abril e eu

É complicado.
Gosto muito de flores. De cravos vermelhos também, sobretudo pelo que por esta altura são símbolo.
Dito isto - e de pés bem firmes nesta empatia de que não os arredo-, não aprecio o neorrealismo faceiro com que adocicam o aparente mistério da sua aparição em ocasião tão lustre da nossa história mais recente.
Ora se tratou de uma pobre florista do Rossio que vivia com a mãe e a filha num pequeno quarto de umas esconsas águas-furtadas. E a quem naquela madrugada sobrou mercadoria. Ora de uma pobre operária despedida sem justa causa e que foi paga com cravos.
Em qualquer caso a senhora acaba sempre a distribuir graciosamente os cravos vermelhos na madrugada de abril.
São jornalistas que após investigação séria nos dão notícia destas histórias, uma ou outra ilustrada com a fotografia de uma senhora que, cinquenta anos depois, nos surpreende bem conservada.
O que me espanta é que nunca ninguém tenha dado conta da coincidência de ser precisamente o cravo vermelho o símbolo da revolução bolchevique e de na extinta URSS ser símbolo de todas as festas e efemérides a ela associadas. 
Como a comemoração dos aniversários de Josef Stalin, por exemplo.



jóhann jóhannsson

são joão de tarouca